15 julho 2011

O corpo



arreganhando os olhos
leve soslaio o braço vai
elétrico giro o ombro cai
salivando os músculos
mãos em gesto de vento
os troncos graúdos
saudando o sol
e estendendo os ossos
como um lençol
__ vontade em movimento.



das pernas moinho
meu corpo sozinho
à rua caminha
a alma que é minha


Marco Pereira Cremasco 

12 julho 2011

Stéphane Grappelli




Stéphane Grappelli foi um grande violinista de jazz francês. Neste vídeo está a sua versão  para o clássico "As time goes by"  do filme Casablanca.
Quando meu amigo também violinista me apresentou a música de Grappelli fiquei deslumbrada com a qualidade do jazz francês que até então não conhecia, e especialmente com o violinista Grappelli por seu vigor e clareza impecáveis.
Ele nasceu em 1908 e faleceu em 1988. Filho de pais italianos, foi encaminhado a um orfanato após a morte de sua mãe com apenas quatro anos, pois seu pai estava ausente combatendo na Primeira Guerra Mundial. 
Grappelli iniciou sua carreira musical nas ruas de Paris e Montmartre com um violino.
Ele começou seus estudos de violino aos 13 anos de idade. No conservatório de Paris estudou  piano entre 1924 e 1928.
Em 1940, Grappelli começou a sua parceria com o pianista inglês cego, George Shearing, e também se reunia com Django, esporadicamente até a sua morte em 1953.
Fundou o Quintette du Hot Club de France com Django Reinhardt, que durou de 1934 até 1939. .
Após a guerra ele aparece em centenas de gravações incluindo as com o pianista Oscar Peterson, o violinista Jean-Luc Ponty, vibrafonista Gary Burton, o cantor Paul Simon, o bandolinista David Grisman, o violinista clássico Yehudi Menuhin, o maestro André Previn, e o violinista Mark O'Connor. Colaborou com o guitarrista britânico Diz Disley, gravando 13 álbuns e com o renomado guitarrista britânico Martin Taylor.


11 julho 2011

Pollock


Pintor norte-americano, Pollock é o membro mais destacado do expressionismo abstrato. Desenvolveu uma técnica de pintura,  o dripping  _ gotejamento _  onde respingava a tinta sobre suas imensas telas; os pingos escorriam formando traços harmoniosos e pareciam entrelaçar-se na superfície da tela. O quadro "UM" é um exemplo dessa técnica.  Pintava com a tela colocada no chão para sentir-se dentro do quadro. Pollock parte do zero, do pingo de tinta que deixa cair na tela, fez nascer o borrão, ou tachismo como chamavam os franceses. Além de deixar de lado o cavalete, Pollock também não usava pincéis, pingava, derramava, arremessava tinta sobre a tela.
Nasceu 1912, no estado de Wyoming. Começou seus estudos em Los Angeles e depois mudou-se para New York. Teve vários problemas com alcolismo. Em 45 casou-se com a pintora Lee Krasner, que se tornaria uma importante influência em sua carreira e em seu legado.
A arte de Pollock combina a simplicidade com a pintura pura e suas obras de maiores dimensões possuem características monumentais. Com Pollock, há o auge da pintura de ação (action painting). A tensão ético-religiosa por ele vivida o impele aos pintores da revolução mexicana. Sua esfera da arte é o inconsciente,  um prolongamento do seu interior.
Assisti o filme  que leva seu nome Pollock: com  Ed Harris  dirigindo e atuando, é de 2000.
Uma vida com rompantes de fúria e auto-destruição. Pollock pintou 350 telas antes de suicidar-se jogando  seu  carro  contra  uma árvore em  agosto de 1956. Um gênio rebelde que pintou obras primas.







Cena do filme Pollock, com Ed Harris 



08 julho 2011

Olhos de Aurora



A manhã não basta
O interrompido do dia resvala
Meu pranto desperta da impossibilidade de mim
As caravanas vão entrar pela porta
Deixar o balde abarrotado cair pela escada
Cheirar minhas mãos e caminhar sob lençóis de abandono.
As virgens vão berrar baixinho
E os maridos vão me amar sem pressa
O apito do futuro toca baixo e reflete pelos muros de fumaça a desgraça de abrir os olhos
É a omissão de mim que ecoa, burguês
E sublime é a imposição do eu distante que já não quer mais ser o fundo dos olhos enganados 
por fé e desespero
É o sono magoado das madrugadas claras
É o pavor de passar pelo batente e subir sem freio para o já patético anunciado
Há o choro todo do mundo que impede a rua de entrar em discórdia

Desperto para a negação de mim.
É o dissentimento, desarmonia, desconcerto
É o equivoco sábio de perder-se em não quereres
De perder-se em vídeo tapes e delírios
De achar a si e ao outro em desencontros nublosos.
Desperto já no final do luto mensageiro
Candura e desafeto de nós
                                                                         
                                                                              Beatrice Morbin

07 julho 2011

Basquiat

Jean-Michel Basquiat foi um dos maiores artistas americanos dos anos 80. Famoso por retratar em suas pinturas uma coroa, que simbolizava _ na liguagem de grafiteiros _ que o autor do grafite era um rei. 
Suas inspirações surgiam sempre de algo que estava vendo, fazia muitas telas enquanto assistia à televisão ou retratava músicos de jazz.
conjugação disso tudo se traduz de maneira pronfunda e impactante. Com um traço caligráfico _ reminiscência da vida de grafiteiro que levava como artista de rua no inicío de carreira _ sob o pseudônimo SAMO fazia textos espirituosos pelas ruas do Soho e East Village. Outra característica é a ênfase dada aos ícones da cultura e do consumo norte-americanos com humor e ironia. Transitava por temáticas contemporâneas no limiar entre o sarcasmo deslavado e a sutileza crítica.
Em ascenção, saiu na capa do The New York Times e virou grande amigo de  Andy Warhol.
Basquiat tem obras incríveis, que foram resultadas de noites em claro, pintando sob efeito de cocaína e heroína, que concederam à ele no futuro complicações que levaram à sua morte em 1988. A assinatura era sempre a mesma; SAMO  "same old shit" ou traduzindo "a mesma merda de sempre". 
SAMO apenas pintava com  paixão o que o cercava.



05 julho 2011

Charles Bukowski







BIOGRAFIA DO VELHO SAFADO

Charles Bukowski é um dos escritores contemporâneos mais conhecidos dos EUA, e alguns diriam que é o poeta mais influente e o mais imitado. Nasceu no dia 16 de agosto de 1920 em Andernach, na Alemanha.
 Filho de um soldado americano e uma mãe alemã, mudou-se para os EUA com três anos de idade. Cresceu em Los Angeles e lá viveu durante 50 anos. Publicou seu primeiro conto em 1944, com 24 anos de idade, e começou a escrever poemas com 35. Morreu em San Pedro, Califórnia no dia 9 de março de 1994 com 73 anos, pouco depois de  terminar seu último romance: Pulp  em 1994.
Li fervorosamente seus livros por toda adolescência. Cartas na Rua e Mulheres foram os mais marcantes.
 Minha primeira briga feia com meu irmão foi por causa do Bukowski. Achava o livro Mulheres impróprio para eu ler tão jovem e em seguida, foi quando estava lendo Zero de Ignácio de Loyola Brandão. No final tudo acabava bem, mas quando a barra pesava em casa, punha o livro na bolsa e ia ler _  perto do colégio que estudava _ na bancada do vão livre no MASP.
Bons tempos.

Beta


Restaurante em Folegandros - Grécia


Estante de livros na praça em Folegandros - Grécia


Há alguns dias reencontrei uma antiga vizinha dos tempos de criança. Morávamos na mesma rua. Era uma cidade pequena, tranquila, onde todos se conheciam. Ainda hoje me parece perfeita _ lembranças de infância são poderosas. Naquela época enxergava homenzinhos em troncos de árvores no jardim de casa. Tinha dúvidas seríssimas: se era ou não possível tropeçar em sacis, mulas sem cabeça e todo o imaginário infantil reforçado, como boa paulista, pela paixão por Monteiro Lobato. 
Ainda meninas nos mudamos com nossas famílias. Fui para São Paulo e ela para o Rio de Janeiro. Nosso reencontro aconteceu ao acaso, nos esbarrando numa rede social. 
Conversamos longamente, e lá pelas tantas comentei que tinha um blog. Ela passou por aqui e então me disse: ''vi seu blog'', e nada mais. Normalmente as pessoas comentam o que acharam, variavelmente elogiam, enfim, o de praxe _ e ela nada. Fiquei curiosa e resolvi perguntar. Sem titubear, me disse que discorda inteiramente da forma que me relaciono com os livros _ referia-se ao texto que postei há alguns dias chamado O Sebo _ e completou: "na medida em que ele é guardado numa estante, depois de lido, perde sua função. Por isso eu não guardo os livros que leio, passo-os adiante. Deixo em bancos de jardim, dou para amigos e conhecidos. Como moramos num país que não prioriza a cultura, consigo fazer com que as pessoas se interessem em ler, sobretudo aquelas que não têm oportunidade de compra-los, em resumo, sou uma bibliotecária muito moderna. Na última viagem que fiz à Grécia, fui a Folegandros, e lá percebi que havia perdido o livro que estava lendo e que havia trazido do Brasil. No dia seguinte, fomos almoçar em um restaurante que fica na praça principal; qual foi meu espanto quando descobri que, em pleno restaurante a céu aberto, um cidadão tinha colocado uma estante na praça com os livros que certamente haviam sido doados por turistas.
Olhando a estante me deparei com meu livro. Tentei explicar que era meu e indaguei se poderia pegá-lo. O dono disse que poderia levar o que quisesse, que estavam lá para serem lidos. Lá é tradição deixá-los nos bancos das praças. As pessoas não conseguem entender como uma bibliotecária como eu, que a príncípio é uma guardiã de livros, não consegue guardá-los".
Quando minha amiga terminou sua narrativa, eu estava totalmente fascinada. Aquela rua especial da infância, os tempos modernos que nos devolvem amigos perdidos, e a forma generosa e revolucionária que ela em especial se relaciona com os livros.
 Olhei para minha estante abarrotada deles. Senti-me profundamente constrangida. Sempre  procurei não me deixar seduzir por coisas de comprar. Às vezes acontece de abrir a porta do carro errado quando o modelo é parecido. Percebi que muito do que chamava amor aos livros era vaidade. Faz com que eu retenha informação, decore minha casa, exponha algum conhecimento pessoal.
 A relação tão próxima que minha amiga tem com os livros, a de arquivista e guardiã,  trouxe a ela esse entendimento: depois de lido é só papel.
 Me senti meio pirada, como as pessoas apegadas às suas coleções. E quantas não são assim. Estoques de bolsas, pares de sapatos, quadros fortalecendo o patrimônio. Tapetes com dois mil pontos o metro quadrado e assim vai. Mas nada pode ser tão egoísta como não passar um livro adiante. Pura vaidade. Depois dessa conversa separei alguns e com dificuldade vou doar. É um começo. Penso nisso. Aquele livro fechado como paisagem está morto. Tanto quanto um poeta amordaçado.
 Planejo separar os mais queridos, os que sempre lerei. O restante, para o mundo.
 Obrigada, Beta!

29 junho 2011

Cigarrofobia








O que me incomoda é o olhar de quem não fuma _ principalmente de ex-fumantes _ e constatar com que prazer andam sapateando sobre nós. 
A Cigarrofobia está demais. Se acendemos um cigarro num lugar arejado, distante de alguém , por que o sujeito lá da outra ponta faz questão de abanar o ar com as mãos? Não estou de modo algum interferindo no seu espaço aéreo, mas o Cigarrofóbico se dá o direito de me apontar com o dedo em riste!
Nós fumantes estamos nos tornando páreas nessa sociedade insana, onde o Estado paternalista dita atitudes e controla comportamentos, através de maciças campanhas publicitárias. Se eu, adulta, tenho conhecimento dos danos que o fumo me causa, como indivíduo quero o direito de optar.  Me sinto invadida e desrespeitada na minha individualidade e liberdade.
 Por que não permitem a abertura de  bares apenas para fumantes? Simples assim: quem fuma frenquenta esse determinado bar. E os funcionários? Seriam contratados funcionários fumantes. Talvez o receio de todos preferirem o bar da fumaça, inclusive os comerciantes, seja o motivo. 
Os cigarros estão aí sendo vendidos enquanto nós, consumidores, somos encarados como os personagens do filme de ficção Invasores de Corpos: o alienígina ao descobrir que o sujeito era humano, soltava um grunhido e o apontava para sua turma correr atrás! 
Não como carne há anos. Seria uma tremenda arrogância discriminar e acreditar que os carnívoros são menos evoluídos. E olha que entre queimar papel e mastigar animais... 
Dia desses, fui marcada em uma foto numa longa lista postada por uma amiga numa rede social. O assunto desviou para o cigarro. Trocavam palavras de encorajamento para os amigos que tentavam largar o vício, ou que tinham conseguido, e se auto-elogiavam com ênfase no orgulho por nunca terem fumado. Eu, muito enxerida, agradeci a marcação e disse que era fumante. Pra que? Ouvi conselhos, críticas pesadas, algumas bizarras, e quando resolvi me defender dizendo que não era infeliz nem auto-destrutiva, uma das participantes argumentou na histeria da razão que Jesus nunca fumou!
 A loucura que tento colocar, é a paixão desmedida, quase violenta dos politicamente corretos. Esse patrulhamento dos Cigarrofóbicos  é tão nocivo que  tornaram-se viciados em virtudes. Julgando e sentenciando, construindo um perfil para o fumante muitas vezes deturpado. Nem todo fumante é suicída e invasivo, como nem todo não fumante é plenamente feliz e saudável. Os cigarrofóbicos tornaram-se maniqueístas, como num drama de novela mexicana onde há vilões e mocinhos.
Reflitam a respeito da prepotência e intolerância. O fumo não altera o comportamento, e a fumaça pode facilmente ser controlada com bom senso. Educar é melhor que impor!
 Daqui a pouco, qualquer atitude fora dos padrões do ministério da saúde _ que nos adverte _ será considerada subversiva.
E não adianta me convidar, não vou à sua casa se não houver liberdade. O bom senso está implícito!