13 junho 2011

O Conde

Nos tempos modernos, na ausência dos bestiários medievais, os vampiros que fazem as mocinhas suspirarem são muito chatinhos. Não sugam sangue humano. O vampiro bom moço, de carrão e adolescente, se alimenta de animaizinhos da floresta. Escolheu passar a infinidade de seus dias jogando beisebol e frequentando o colegial. Enterrar o canino na aorta, só para os coadjuvantes. Mocinhas que cresceram informatizadas suspiram almejando a juventude eterna ao lado do grande amor imortal. A moral vencendo o instinto, sobrepujando o desejo incontido da mordida fatal na jugular. Ah o bom e velho Drácula dos filmes branco e preto! A névoa encobrindo o castelo, uma lua alucinada correndo à velocidade do grito contido, o único rastro de luz no breu do desejo e o medo. Onde está o garboso Príncipe das Trevas dos pesadelos de minha infância? Copo com água , réstia de alho, e a espera. Dormir com o travesseiro sobre a cabeça protegendo o pescoço, minha condição humana ameaçada, o terço de minha mãe pendurado na cabeceira da cama. O aparato completo. A estaca, um sonho de consumo! Rezava para o anjo da guarda me proteger, e rezava para o Conde Drácula me querer. Um teste de fé: seria eu  forte o suficiente para dete-lo e, caso me tornasse um ser abissal, como viveria esse mundo? Suportaria ser um deles? Olhos vermelhos, cabelos negros, a pele muito branca e uma vestimenta bem mais atraente que a de costume.
Ultimamente o vampiro vive na América, a Transilvânia se encolheu ao passado junto com Bram Stoker. Quando eu atingia o limite do pavor, era necessário que atravessasse o mais longo e extenso dos corredores que conheci. Nele, habitavam as sombras, mãos que roçavam meus braços, puxavam meus pés, arrastavam-se silenciosas no tapete sob meu corpo até conseguirem manter-me de olhos fechados e lábios selados pelo pavor. Naquele turbilhão de horrores _ que acontecia variavelmente nas noites em que pensava Nele _  já no meio do caminho, quase exaurida pelo pânico, estava o Tabú, meu cão que alí descansava tranquilo. Não mais tremia tanto e conseguia galgar os próximos passos com maior dignidade. Ir de encontro ao grande portal. À salvação!  Deitar no céu, na cama entre meus pais. Como era bom! 

David LaChapelle


Cores saturadas, polêmico, pop, exagero e estático, este é David LaChapelle. Um dos fotógrafos mais prestigiados do nosso tempo, conquista celebridades e as fotografa ousando em cores e no estático, cenários montados e surrealidade são praticamente seu sobrenome! Apostando nas fantasias cômicas e na beleza bizarra, foi considerado pelo New York Times o Fellini da fotografia. É uma verdadeira ostentação do surreal, é uma mistura de tons fortes, o vulgar, o inferno, o sagrado e o nonsense.