23 junho 2011

Pimpão Triste



Aconteceu uma coisa estranha comigo. Quando ouço uma música _ como a maioria de nós _   tenho as sensações habituais:  saudade de uma época  ou de um lugar, enfim, os sentimentos extarordinários que ela nos remete a reviver. Se é um novo som, curtimos e queremos ouvir mais e mais. Se não gostamos é fácil, não ouvimos. A música não é invasiva, a não ser quando o sujeito que a está ouvindo, é! Aí temos que aguentar o som estridente do carro ao lado, a má sorte de ter um vizinho pagodeiro, ou um radinho descontrolado enlouquecendo quem está por perto. Existem sons tão comoventes que nosso corpo vibra com tal força, que é ela, aquela música que conta nossa história. Mas deixarei os devaneios e vou contar o que me aconteceu. Numa noite dessas estava com a parafernália ligada: ouvindo música no youtube, a tv com o som baixo, e conectada no facebook. O silêncio e o isolamento quebrados de todas as formas. Até aí, tudo bem, muita gente vive assim rotineiramente. Mas eu não. Moro no campo, e a casa é quieta. Não há barulhos externos e muitas e muitas vezes fico no silêncio. Gosto! Os sons são do rio, do vento, dos bichos: um latido que ressoa lá de longe, desencadeando uma audição canina em série, sapos que cantarolam depois da chuva _ muito chatos, insuportáveis _  coruja piando, cavalo que relincha, gato que mia, e assim se arrasta a ladainha rural por noite adentro. E há os momentos de silêncio absoluto, só rompido pelo pensamento. Mais radical ainda quando fico alí, sem pensar, sem som algum. Mas nessa noite que estava conectada virtualmente, ouvindo e vendo e conversando, conheci uma música de nome engraçado chamada Pimpão Triste. Comecei a escuta-la porque foi postada no face por um amigo compositor _  era uma lista longa, com várias composições suas, e estava ouvindo já há algum tempo _  o Pimpão Triste estava lá entre elas. Foi hilário, desandei a chorar compulsivamente, sem a menor predisposição, não faria isso em condições tão normais como aquela. Nem sentia algo por ela! Não tínhamos aparentemente nenhuma química e fiquei inquieta, perplexa pelo Pimpão me fazer soluçar. Que diabos era aquilo? O som do violino entrava na minha garganta e dava nó, até torcer a alma e eu chorar! O desconforto que uma emoção anárquica nos provoca, é um susto! Resolvi parar de ouvir por total estranhamento. Diante daquela cena quixotesca, fui aumentar o som da tv. Olhei para a tela do computador, lá estava ela, a música! Já refeita, e passado o constrangimento, fui ouvir mais uma vez o Pimpão Triste, como quem cutuca um formigueiro descalço, com cuidado! Fiquei olhando para mim, esperando altiva minha total indiferença. Comecei a ouvi-la, e claro, a  desmontar como uma perfeita idiota. Desisti. Morro de medo do Pimpão Triste. Não consigo racionalizar o que sinto quando a ouço. O que será que o  inspirou quando compunha? Seria um palhaço? Palhaços são tristes, ou o Pimpão era o seu cachorro? Talvez um apelido de um amigo de escola, pobrezinho! Será que o nome Pimpão que me deixou tão perplexa? A melodia é bela e triste. Mas que tristeza é essa! Se é minha, então que me conte. Mas não, chóro o choro de um pimpão triste! E mais, não sou de chorar por pimpões, nem mesmo alegres. Me diga, você ja chorou por uma melodia: sem passado, sem futuro, e solta no seu presente, porque até saudade do que nunca vivemos se tornou clichê, agora, lágrimas de verdade, e desbragadamente como se fosse outro alguém a nos chorar!
Ah, preciso saber de mais pessoas que vivenciaram isso!  

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